sábado, 19 de janeiro de 2013

"Provo então o gosto agudo da laranja, ativando regiões próximas ao que restou dos dentes de siso, penetrando o tímpano mais que o palato, arrepiando mesmo a raiz do cabelo mas principalmente lavando a imersão esponjosa da noite, o mau hálito que guarda intacta a tumba do sono, afastando intrusos. Em seguida o café com leite e pela janela aquele comércio entre pombos, penas e arrulhos, as crianças já foram para a escola e quem é que está aí dentro, suas primeiras pontadas, como um desânimo diante da imensidão do que se tem pela frente, da sucessão numérica de banalidades que vão constituir aquele dia - posso sentir as patinhas da minha centopeia. Meu cansaço. É quase com conforto que volto a ele, como quem veste um sapato velho."


Meu cansaço, Nuno Ramos.

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