quinta-feira, 29 de setembro de 2011

“Que privilégio de profundidade há nos devaneios da criança! Feliz a criança que possui, que realmente possui as suas solidões! É bom, é saudável que uma criança tenha suas horas de tédio, que conheça a dialética do brinquedo exagerado e dos tédios sem causa, do tédio puro. Em Memórias, Alexandre Dumas diz que era um menino entediado, entediado até as lágrimas. Quando sua mãe o encontrava assim, chorando de tédio, perguntava-lhe: -E por que é que Dumas está chorando? -Dumas está chorando porque Dumas tem lágrimas -respondia o menino de seis anos. Esta é sem dúvida uma anedota como tantas outras contadas nas Memórias. Mas como ela marca bem o tédio absoluto, o tédio que não é o correlativo de uma falta de amigos pra brincar. Não existem crianças que deixam o brinquedo pra ir se aborrecer num canto do sótão? Sótão dos meus tédios, quantas vezes senti tua falta quando a vida múltipla me fazia perder o germe de toda liberdade!”

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