quinta-feira, 8 de setembro de 2011

"Passamos a usar cada vez com mais frequência o pronome "nós". É uma palavra estranha. "Amanhã eu vou fazer isso ou aquilo", a gente diz normalmente. Ou pergunta a outra pessoa, a "você" por exemplo, o que vai fazer. Isso não é difícil de entender. Mas de repente "nós" passa a ser a coisa mais óbvia do mundo. "Nós vamos de balsa a Langøyene para nadar?" - "Ou vamos ficar lendo em casa?" - "Nós gostamos da peça de teatro?" - E então, um dia: "Nós somos felizes".
Ao empregar o pronome "nós", a gente estabelece uma conexão entre duas pessoas com uma ação comum e quase faz com que elas se transformem em uma só. Muitas línguas têm um pronome especial para se referir a apenas duas pessoas. Esse pronome se chama dual, e designa as coisas que vão aos pares. Eu acho isso importante, pois às vezes a gente não é nem uma pessoa nem muitas. A gente é "nós dois", e o é como se esse "nós dois" fosse inseparável. São fabulosas as regras que passam a vigorar quando esse pronome é subitamente introduzido, quase como por um passe de mágica: "Agora nós vamos cozinhar." - "Agora vamos abrir uma garrafa de vinho." - "Agora vamos dormir." Não chega a ser absurdo falar assim? Em todo caso, é completamente diferente de dizer "Agora você precisa tomar o ônibus e ir para casa, eu estou cansado".
Quando a gente usa o dual, do qual a palavra "ambos" é um vestígio, passam a vigorar regras totalmente novas. "Nós vamos passear!" Nada mais simples, Georg, somente três palavras, e no entanto elas descrevem uma sequência de atos que interferem profundamente na vida de duas pessoas na Terra. E não é só em termos de quantidade de palavras que se pode falar em economia de energia. "Vamos tomar banho", disse Veronika. "Vamos comer." - "Vamos dormir!". Quando a gente fala assim, precisa só de um chuveiro. Precisa só de uma cozinha, só de uma cama."

Nenhum comentário:

Postar um comentário