domingo, 9 de dezembro de 2012

"Se ela murmura em meio ao sono - e ela dorme o tempo todo por causa dos remédios - é como se dissesse uma verdade escondida, que não se pode negar. Mas é sempre verdade, e não apenas quando dorme: talvez ela esteja morrendo. Eu ponho meu ouvido perto do seu hálito, com medo. Não quero ouvir uma queixa, não quero ouvir outro nome. Não quero que se lembre do que não viveu comigo. Cumpro o que me pedem: horários, remédio, e fico batendo, como um morcego, as asas nas vidraças: pedaços de frase, rancores antigos, um ritmo sem conteúdo, uma pergunta cretina. Acordo para olhar: respira? Dorme com as mãos estendidas e as plantas do quarto crescem até junto delas. À noite vêm umedecer a ponta dos seus dedos magros. Está plena na magreza, definha como uma santa, os ecos da madrugada conseguem entrar no meu quarto e perguntam. Entram em silêncio, depois perguntam: o que você fez por ela? Eu fiz o que podia. Quanto é isso? Fiz tudo o que podia."




Minha Fantasma, Nuno Ramos.


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